Vou por aí...
Hoje ao mexer nas prateleiras dos livros... procurava " O mar, o mar", de Írish Murdoch, encontrei um outro, " um beijo dado mais tarde", de Maria Gabriela Llansol.
E como tenho o mundo inteiro dentro da cabeça, indo por aí, vou escrever umas palavras desse livro.
Vai comigo.
Amo Maria Gabriella. Pelo seu absurdo,
...Eu vi, veloz, que alguém, ou alguma coisa, ou alguma hesitação sobre o absoluto, precisava de nascer de nascer deles. Voltei para trás à fonte de silêncio e senti que ia ser profundamente amada, e mal.
Ele interrogou — Queres ser superficialmente bem amada
ou
mal amada, mas profundamente?
" Amada profundamente mal, amada profundamente e sem saber", traçou o pé do lápis na ombreira da porta.
É dessa profundidade que Témia sofreu, e morre.
Profundidade que era pão, sopa com pão e palavras, e uma colher de azeite virgem onde brilhava já, mas por levar até ao fim, a redenção penetrante da Casa.
" Ana ensinando a ler a Myriam, disse eu, acabará por encontrar o último fragmento do objectivo que nos falta".
Ana ensinando a ler a Myriam é uma ideia. A bela ideia de uma imagem perene. A tesoura do cesto da costura, desenhada no canto inferior esquerdo, opondo-se à ponta do tecido, aceitando, sem ver, a bela cor azul. Que força emana desse quadro, da pomba de cabeça inclinada, do dedo sobre o meio do livro, da criança de pé, vestida de branco, três vezes mais pequena que a altura da Ana.
Que magnífico sentimento de cabeça envolta num véu, e murmurando " que exista em abundância". Uma mão pousada, uma mão erguida deixando ver a palma, uma mão parada sobre o coração, outra fazendo de estante.
Um decote de vestido, três pregas de saia, uma nuvem que protege, e o esforço ininterrupto de ler. Ler, lendo, antes de ler, a ler, depois de ler, lembrando que estava a ler, lembrando a leitura, lembrando o pequeno tapete, ou quadro, em que pousamos os pés.
Leio,
ela lê:
" quando a tarde cai, reacendo as luzes que ficaram quase acesas da outra noite".
Imagens de Karin Svékessy
Pedro Alves
Nuno Alves
Maria Keil
Sónia Cântara
Gustave Doré
Albrecht Dürer
John Tenniel
Aubrey Beardsley
Albert Bertelsen
John Byrne
Emiliano di Cavalcanti
( Desliga falando baixo e muito depressa ) Meu Deus, fazei que ele volte a ligar. Meu Deus, fazei que ele volte a ligar. Meu Deus, fazei que ele volte a ligar. Meu Deus fazei ( O telefone toca. Ela atende. ) Cortaram outra vez. estava a dizer-te que se mentisses por bondade e eu soubesse, teria ainda mais ternura por ti........................................Com certeza...................................Não sejas doido, meu amor!...........................................................................................................................meu querido amor! (enrola o fio do telefone em volta do pescoço)........................................................................................................Claro que é preciso desligar, mas custa muito..................................................................................................................
,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,Sim. Ter a ilusão de estarmos abraçados um ao outro e de repente interpor caves, esgotos, uma cidade inteira entre nós................................................................................Lembras-te da Ivone, que não podia conceber como a voz passava através dum fio tão torcido? pois tenho o fio em volta do pescoço. A tua voz em volta do pescoço..........................................................Ah! se a companhia cortasse........... a........................................................................................................... ligação por acaso............................................................................................................................................................Oh! meu querido! Como podes supor que eu penso semelhante coisa? Um de nós tem de tomar a decisão e eu sei bem que é ainda mais cruel para ti que para mim........................................................................................................................................................não...
.................................................................não, não...................................................................................
...............................................................................................Em Marselha?..............................................
.....................................Ouve, querido: já que vocês chegam a Marselha depois de amanhã à noite, eu queria................................................................................................................enfim, ..............
eu gostaria................................................................................................................................................
gostaria que não fosses para o hotel onde ficámos tanta vez. Não te zangas?............
.........................................................................................................................Porque as coisas
que não imagino não existem ou então existem numa espécie de torpor que me dói menos
.............................................................................................................................................................
.................compreendes?...................................................................................................................
...............................................................Obrigada.................................................................................
Obrigada. És muito bom e eu amo-te. ( Levanta-se e dirige-se à cama com o telefone na mão) E agora.........................................................................................................................................
.....................................................................................................................agora....................................
..............................................................................................................Ia dizer maquinalmente até logo
.......................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
..................................................................................................................................................................
....................................................................................................Duvido.................................................
...........................Nunca se sabe............................................................................................................
..............................................................................................................Oh!.......................É melhor assim
............................................................muito melhor.....................................................................................
( Deita-se e aperta o telefone nos braços) Meu amor.........................................................................
....................................................meu amor perdido..................................................................................
............................não hesites......................................................................................................................
estou preparada. Vamos. Desliga! Desliga! Desliga! Desliga depressa. Amo-te, amo-te, amo-te, amo-te, amo-te..........................................................................................................................
.....................................................................................................................................................................
( O auscultador cai no chão)
PANO
A Voz Humana - Jean Cocteau
tradução de Carlos Oliveira
Imagens - André Kertész e Frederick Leighton
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